sábado, 16 de abril de 2011

Décimo dia - Considerações

O diário de se sonhar acordado em alguns detalhes do dia.

=)

Décimo dia: Volver

Puxa o gatilho e lá se vai o pensamento.

Movimento retilíneo uniforme, progressivo no tempo, sem rastros no chão, quebrando a barreira do ar. Não há volta.

O pensamento vai, vai, vai - eu não vou.

Assim funciona a memória.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Nono dia: Décimo dia

Querido diário,

Hoje eu avancei o calendário. Arranquei uma folhinha a mais, bem embaixo do nariz de Jesus. Ele me olhou nos olhos, me apontou seu sagrado coração, mas era mais forte que eu. Ele iria entender. Era só comprar outro, ninguém iria notar.

Hoje marca 16 de Abril de 2011. Então hoje é 16 de Abril de 2011. Dia Nacional da Voz. De "labutar por uma nova realidade social" - diz a folhinha. Amassei o dia 15 sem nem ler. Ele não aconteceu. Ninguém sabe. Só eu.

Hoje eu fiz o mesmo de sempre. O destino estaria radiante se não fossem 16. Burlei o destino.

Oitavo dia: Revólver

O lugar é o mesmo de sempre. Mudou-se o dia. Mudou-se a hora de encontro. Pimba! Mesas na rua, jazz de primeira classe, 2 novos garçons, cerveja quente, até o dono do bar estava de bom humor. Peraí, eu não mudei tanto assim, ou mudei, só de mudar o dia?

Mudei o dia. A lua nasce à tarde, outono é quente, o encontro era amanhã e não hoje. Volto à pé. Dá tempo. Opa! Outro público, público hostil que me manda voltar pra casa por qualquer caminho, até voando. Então talvez eu não tenha mudado tanto assim.

Acordei cedo, tomei banho, tomei café. Ué! Cadê o café? Ontem tinha um pote cheio, não é possível que tenham tomado 10 litros de café em um dia. Como saio de casa sem o café da minha cafeteira? Não mudei NADA.

Sétimo dia: Não estou vendo

"Se conseguir encontrar um gato preto, em uma quarto escuro, usando óculos, me diga como"

Joga búzios, tira cartas, lê borras de café, ouve pessoas. Sula da Ciranda coloca seu futuro em palavras.

Escreva o nome do seu amado num pedaço de papel e em cima do nome dele escreva o seu. Repita isso por sete vezes no mesmo papel. Depois, coloque em prato e despeje mel por cima. Para outras simpatias, Mãe Marlena.

Sabia que seu signo não diz tudo sobre você? Faça sua carta astral com Maria Lua e entenda como a energia dos planetas e das estrelas te afetam.

Quem semeia nabos, colhe nabos. É como 2 e 2 são 4. Sou seu vô e tenho experiência - além de um diploma em economia.

O diabo se instala onde não há deus. E deus não falha, quem falha são os homens. Para isso, nossa igreja  da luz oferece o caminho para que não se desvie e se feche os olhos para a escuridão.

O último romance de Roman Savon nos permite ter um novo olhar para as nossas relações. Sua delicada descrição da atual sociedade lança uma nova interpretação da sutileza dos nossos gestos para que não deixemos a correria passar por cima de nós e de nossas prioridades.

A interferência na sociedade é a pauta do Movimento Revolucionário. Fazemos a diferença com uma ação firme, sempre discutida, que visa uma maior inserção política de grupos minoritários e marginalizados.

Feijão + Música = vida.

Obrigada a todos pelos comentários de feliz aniversário.

Uma racionalização da própria incoerência é uma forma de se colocar no mundo e admitir suas faltas, se ver como ser humano. Analise por palavras, coloque para fora... como mesmo era aquele cachorro no seu sonho?

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Sexto dia: "Something's changing inside you, don't know?"

"Não há nenhum outro lugar onde eu poderia estar" pensou a pétala no curso do rio. A cada obstáculo, a água mudava seu rumo... criava um braço à esquerda, passava por baixo, mas ia adiante. E o que ficou pra trás? Acúmulos do resto passado.

"Não há nenhum outro lugar onde eu poderia estar" considerou a pétala nas voltas que dava sem chegar ao centro. Um redemoinho sem vento, a força do fundo provoca movimento. Sem tempo. Voltas, voltas. Quem sabe um ralo para fim? Melhor não pensar em que bueiro vai parar.

"Não há nenhum outro lugar onde eu poderia estar" decidiu a pétala no fluxo do ar. Voando sem rumo, escorando em obstáculos, machucando suas veias de planta. Sem rastro, sem sangue. Hematomas que seguem pelo presente e desaparecem no segundo anterior, no segundo seguinte.

"Não há nenhum outro lugar onde eu poderia estar" inscrito na árvore: amantes da paixão gravaram na natureza seu sentimento fugaz. Tentaram por fim eternizar o imemorável. Cai uma lágrima, escorre uma gota da seiva, tomba uma pétala. O que resta?

Quinto dia: Estacas

A porta da garagem se abrindo - o farol do carro lança contra as grades do portão aquilo que estava oculto: a prisão da solidão. E no chão são refletidas as sombras de cada estaca da porta que protege - são lacunas que interrompem o continuum da luz. Cena de horror.

O carro sai, só pelo controle da embreagem, sem necessidade de acelerador. São quantas marchas mesmo? São os passos necessários para marchar por cima do cotidiano. Olhos profundos no rosto sem sorriso. Nem adianta farolar, o olhar não muda. Não, não se trata de surdez visual, mas de inversão do externo - o fora está dento e o que dentro reside está no mundo.

Mundano, Mudano, Mudando.

sábado, 9 de abril de 2011

Quarto dia: Tatuagem

"Take this". Ai. Me dói mais a costela que sua ilustração. O que mais posso gravar em meu corpo além do X na minha testa que atesta minha autoria? Sei que no meu corpo estão gravados meus hábitos e rituais, mas não os sinto, somente quando os repito e a sensação de casa me vem à tona.

Me machuca mais a costela que sinto ou o mar que ouço. Esse me atinge de diferentes formas. Tive medo de engolir uma abelha, quando era só um resto do lacre do vinho. Lacre ou selo? Ambos seguram a segurança. Já a costela me desnorteia e o mar me revolta. Hoje sonhei com ele.

Sonhei que as máquinas que trabalham à 50m do meu ouvido soavam como cachoeiras. Em meus sonhos eram o mar contra a rocha. E eu podia me divertir nele. Vários toboáguas depois de caminhadas e caminhadas ouvindo somente o som do esperado. Posso me divertir no caminho.

Me permito fugir à minha ética. De que vale meu sentimento se não está posto em causa? De que vale o mar sem contato com a rocha - para a areia formar? De que eu valho para mim se não existo no instante que me sinto?

Escuto mais um tiro suicida. Soa como garças, como zumbidos de abelhas, como máquinas rangendo. No ouvido. Na carne, nada. No meu corpo, só o passado. De quem sentia o som nas veias, as palavras na derme e a mente nos cortes.Objeto de mim, objeto do outro. O processo do sujeito continua obscuro. Não há luz. É uma ques†ão de se acostumar à escuridão. 

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Terceiro Dia: Mel

Pousa a abelha no braço da criança. Não se espanta! E não espanta o zumbido o inseto. Certo de que não é pico, o menino deixa a abelha descansar. Não há picada quando a abelha sai. Agradecida e agraciada pela companhia de um ser.

Voa não muito longe e encontra a rosa que queria. Vermelha. Lá permanece pelo tempo que pode, encontra todas as veias da rosa, chega até o miolo amarelo radiante. Descanso passageiro, já era hora de partir. Seu pouso foi retirado da orelha da moça. A rosa, viva para a abelha, era murcha para a moça. E a moça a oferece para o rapaz a sua frente: é só o que tenho a oferecer.

A partida da abelha logo encontra novo porto. Um copo, de líquido vinho. Nem doce, nem amargo. Mais um lugar de descanso. Foi levada aos lábios. Inúmeras vezes provou do beijo de um desavisado. Não fosse a conversa entediante, teria ali permanecido por mais tempo. Lá vem aquele velho hábito de ser enxotada por uma palma de mão temente de seu ferrão.

Zumbizando, ressentida, voa sem rumo. O ferrão não é para agora. Matar é suicídio. Onde estão seus campos? Pode-se ter um sossego no copo de guaravita? É diabetes na certa, excesso de glicose. De certa forma, a colméia está tão longe, não tem mais sentido buscar mel - esse só tem utilidade em grupo. Posso pousar em qualquer lugar... aqui pra mim está bom.

E roda em torno da luz. Pára, emite seu som, voa, volta, e faz tudo de novo. O calor da luz artificial lhe queima, mas ao se afastar logo se esquece do mal que lhe faz. E nesse ciclo permanece por muitas horas, até ir de encontro à claridade da lua. E voa.

Para finalmente descansar seu ferrão, a abelha pousa no olho do primeiro menino.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Segundo dia: Samambaia

Entre ela e a samambaia uma diferença: a fotossíntese. Frondosa, a samambaia enfeita a entrada, tal como ela enfeita a si mesma. Tagarela, ela bate papo e ri consigo, tal como a samambaia nutre a si.

Ela chega, empolgada, sorridente, segurando no único fio de sanidade que possui: o humor. Mas não é um humor qualquer, é o humor autocrítico. É o humor de defesa do se, não um humor anti-ataque ou um humor de ofensa. Um humor de amor. Um amor de compaixão por ela.

A samambaia é retirada do seu cantinho onde pega sol durante o dia e colocada no seu pedestal à noite. Ela sabe do carinho que recebe, e retribui com seus cachos verdes que enfeitam o pedestal. Sim, porque sua importância não reside no altar, esse só tem valor por conta da presença da samambaia.

Entre a samambaia e ela uma igualdade: o momento. É o estar para si. O brilho de quem não poderia estar em outro lugar. Cada minuto não é contado. A hora não passa. Logo, logo muda. Muda tudo, a muda da samambaia e ela se cala.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Primeiro dia: Te quero, passarinho!

Acordou ao lado dela. Nem se lembrava que isso era possível, fazia parte dos desafios. Dentre eles, entender o que se passava nela. Colou o ouvido para ouvir os batimentos cardíacos. Se estava acelerado - bem me quer. Se o tum tum era ritmado - não me quer. Recebeu um sorriso como resposta - mas não era essa a pergunta.

Colocou a máscara e abriu o peito. O bisturi cortante enferrujado pelo tempo lhe pediu silêncio ao oferecer atenção. Os olhos dela estavam atentos, os lábios costurados. Confusão. Com-fusão. A máscara não podia estar ali. Não havia espaço para o pasteurizado, para o limpo e esterilizado. Não havia função para o útero estéril dela. Não havia ouvidos para as palavras de uma, havia muros: ele quer, ele quer, ele quer.

Ele quer, ele cria, acontece. Acontece? Nela aconteceram palavras, nele só a melodia ritmada do tum tum. Cada qual com sua música. Assobiando no seu tempo, de acordo com o bater das asas, da mudança do vento.

Primeiro Dia - Considerações

Achei que tivesse mais blogs. Me lembro que eu tinha, quando mais nova, mas era já um outro monopólio - um vende pro outro, muda o domínio e por aí vai. Quem se lembra do fotolog? Nem sei pra quê o Flickr. Quem se lembra do audiogalaxy - fonte de música muito mais interessante que napster etc. Tá, tô bem saudosista. É o cansaço.

Me sinto mais cansada quando acordo cedo do que quando durmo pouco. Hoje quem acordou foram meus olhos. Às 5h. Minha visão ainda estava no sonho. Meu corpo ainda parado. Minha voz presa no pensamento. Acordei antes de mim. E isso acontece porque talvez não tenha nem ido dormir. Mas fui sonhar. Fui brincar com todas essas informações do dia a dia, essas cores, essas vozes, esse Todo que não foi focado. Se (re)arrumou de tal forma que eu não era eu no sonho de hoje.

Mas nunca eu sou eu. Logo ao definir eu deixo de ser. Por isso durmo... durmo.... o tempo passssssss...zzzz